Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade, disse o Jorge Luís Borges.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores. Mas enlouqueceria se morressem os meus amigos. Até mesmo aqueles amigos que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências.
A alguns deles não procuro. Basta-me somente saber que eles existem, essa mera condição me encoraja a seguir enfrente pela vida.
Mas porque não os procuro com assiduidade envergonho-me de lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital. Porque eles fazem parte do mundo que eu tremulamente construí. E se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo para a loucura ou para o suicídio.
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é em síntese dirigida ao meu bem-estar.
Ela é talvez maior fruto do meu egoísmo do que por quanto eles souberam tornar-se à mim tão caros. Mas como as duas coisas se confundem, eu alivio minha consciência.
Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me uma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer.
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos que sabem que são meus amigos.
E principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos.
(Crônica de Garth Henrichs)
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